CONFERÊNCIA

O movimento LGBTI+ brasileiro comemora 40 anos de resistência. Resistência que ajudou a ampliar nossas possibilidades de existência. Durante esses 40 anos, nós, pessoas LGBTI+, nos espalhamos.
Construímos pencas de olhares e experiências. Estamos em vários níveis na escala de privilégio e “aceitação social”. Nossos outros recortes se somam e nos complexificam: raça, classe, lugar de origem, peso, idade, deficiência…
Enxergamos o mundo a partir de muitos lugares: universidades, museus e galerias, esquinas, palcos, passarelas, telas, corporações, (outras) famílias, organizações e sindicatos, banheirões e darks, coletivos artísticos, grupos de zap, quebradas, assembleias, escritórios, templos, terreiros, espaços de clandestinidade, supremos tribunais, cracolândias, prédios, praças, ruas. Estamos em todos os lugares, e de muitas formas.
Mas, depois de quatro décadas, a ascensão do ultraconservadorismo dá uma cara estranha de recomeço. Uma sensação de não-acredito-que-tô-tendo-que-falar-a-mesma-m*rda-há-40-anos.
Ainda que muito plurais, o extremismo conservador relembra nosso denominador comum: todos os nossos corpos desviam da norma. Portanto, estamos sujeites à aniquilação.
Então, de um lado, há todos os recortes que fizemos nos últimos 40 anos. Do outro, a necessidade de colar todos esses corpos numa coalizão antifascista. E, no meio disso, muita treta interna.
Talvez um dos nossos maiores desafios seja justamente desbinarizar esses “lados” que parecem opostos.
Não, não somos iguais, nem 100% diferentes.
Dá para falar do que nos une e também do que nos separa.
Dá para coletivizar sem fechar os olhos para as desigualdades internas.
Dá para ser LGBTI+ sem deixar de reconhecer o privilégio G e lutar pela visibilidade LBTI+.
Dá para ser sem precisar assimilar um cosplay de quem nunca seremos.
Dá para juntar quando for preciso juntar, e também separar quando preciso.
Dá para aprender com o passado (alô, 9inha que acha que está inventando a roda) e aprender também com novas formas de articulação (alô decano da militância).
É hora de transformar toda essa angústia em potência e organização. E não na perspectiva cirandeira de dar as mãos e necessariamente “fazer as pazes”, ser todo mundo migues para 100pre. Na verdade é sobre fazer política. Construir uma coalizão estratégica para lutar.
A gente precisa se juntar para repensar nossa comunidade – aqui, agora, sem lente gringa, com foco nas nossas vidas e na nossa potência de transformação.
Para isso, a Conferência Mix Brasil convidou a Pajubá, Diversidade em Rede + um grupo plural e interseccional para construir uma plataforma coletiva de Coalizão LGBTI+ em que a união se dê pela diferença.
Uma programação que vai misturar velhas e novas guardas, textudas e fervidas, acadêmicas e colocadas, artistas e ativistas, sapas, travas, mulheres trans, boys trans, bichas, pessoas intersexo e PVHA de vários lugares, olhares, estéticas, texturas, heresias e poesias, bafos superplurais e alguns megaespecíficos também.
Diálogo. Troca. Escuta. Celebração. Autocrítica. Vulnerabilidade. Interseccionalidade.
Vem!